Leia esta crítica – que pelo título você já nota ser diferente das outras – do Pipoca Moderna que retrata Kristen Stewart além de suas personagens.
A falta de expressividade de Kristen Stewart na “Saga Crepúsculo”, onde interpreta a mocinha Bella Swan, tornou-se mote recorrente de piadas e paródias. A franquia baseada nos romances açurados e pretensiosamente vampíricos de Stephenie Meyer alavancou a atriz de 21 anos ao estrelato internacional, mas disse pouco – ou nada – sobre ela em termos de talento. Talento que a jovem parece determinada a provar – motivo pelo qual tem feito diversos dramas independentes, como “Corações Perdidos”, desde sexta em cartaz nos cinemas brasileiros.
A estratégia de Kristen em nada se difere à de tantos outros atores americanos: o cinema independente não ajuda a pagar as contas, mas é quase sempre garantia de papéis mais humanos e desafiadores. Se a empreitada dá certo, o prestígio é instantâneo, podendo até valer indicação ao Oscar. Se passa despercebido, resta ao menos a satisfação pessoal e o prazer da experiência.
Nesse esquema, Kristen também se arriscou em “The Runaways – Garotas do Rock” (2010), onde interpretava Joan Jett em sua fase de aspirante à roqueira, e no inédito “On the Road” (2011), dirigido pelo brasileiro Walter Salles (“Diários de Motocicleta”) com base no cultuado livro de Jack Kerouac. Tem dado razoavelmente certo: Kristen está angariando, pouco a pouco, elogios da crítica, e provando que desempenhos medíocres estão mais relacionados às limitações do papel do que da atriz.
“Corações Perdidos” não foi um estouro nos EUA, mas a recepção foi favorável e rendeu à atriz o seu primeiro prêmio sério de interpretação – no Festival de Milão. Kristen ficou com o papel de uma stripper sem perspectivas que é acolhida por um casal que ainda lida com a perda da filha – este interpretado pelos veteranos James Gandolfini (o chefão da máfia de Nova Jersey na série “Família Soprano”) e Melissa Leo (recém consagrada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “O Vencedor”). Uma oportunidade e tanto.
Leo, cujo gênio difícil é notório nos sets de filmagem, foi a solicitude em pessoa ao se referir a Kristen. “Ela tinha 18 anos quando filmamos isso, jovem demais pra saber de todas as coisas que ela já sabia”, comentou a atriz. “Kristen quer aprender a trabalhar em diferentes tipos de filmes. Ela não acredita que sabe tudo. Ela não vai estar sempre presa a esse personagem que interpreta na ‘Saga Crepúsculo’. Ela vai fazer uma escolha para sair dessa prisão. E isso é um ator, uma estrela de cinema”, afirmou, por fim.
A penca de elogios é endossada pelo diretor de “Corações Perdidos”, Jake Scott, filho de Ridley. Ele afirma que a performance de Kristen em “Na Natureza Selvagem” (2007), onde a moça foi dirigida por Sean Penn, foi o que lhe convenceu de que ela era capaz de sustentar papeis complexos. Jake, que conheceu a atriz antes do “boom” da “Saga Crepúsculo”, garante que a fama crescente em nada lhe modificou. “Ela ainda é Kristen para mim – a garota do Valley ótima para assistir filmes e passar um tempo junto”, disse.
Essa informação não soa surpreendente: o jeitão de poucas palavras, bem “na dela” de Kristen pode ser motivo de gozação, mas certamente a diferencia de outras jovens estrelas em ascenção que não fogem da exposição.
Enquanto o astro pop Justin Bieber compartilha cada pensamento que lhe ocorre pelo Twitter, Kristen é reservada ao extremo. Entrevistá-la significa ouvir uma infinidade de “hum”, pausas longas e respostas vagas que são um verdadeiro suplício para os jornalistas. Até sobre o possível romance com Robert Pattinson, seu par na “Saga Crepúsculo”, ela (e ele) tem sido discretíssima. “Tenho sempre que responder a mesma pergunta, de novo, de novo e de novo. E não é a redundância que me incomoda. É que eu nunca tenho uma resposta”, soltou Kristen, na rodada de divulgação do drama indie.
Dakota Fanning, que dividiu a cena com Kristen tanto na “Saga Crepúsculo” como em “The Runaways”, cresceu acostumada à presença da mídia e declarou que, após um tempo, parou de resistir à tentação dos paparazzi e afins. Mas aponta que a amiga é muito diferente. Kristen assume que isto é um problema e já se acostumou a passar por antipática. “Amo meu trabalho e, justamente por isso, eu preciso protegê-lo”, disse, como sempre em tom enigmático.
Kristen se articula com uma perspicácia que os detratores não lhe atribuem: quanto mais exposto está o ator, mais difícil é para o público enxergá-lo camuflado em um personagem.
Interessante é notar, também, que, por baixo da mítica de sua figura, Kristen tem a aparência da “garota da casa ao lado” e, portanto, cai como uma luva em papeis comuns – mesmo que ela própria esteja muito distante da normalidade. No caso de “Corações Perdidos”, Stewart garante que tem pouco da personagem em si, mas que conseguiu se identificar com a stripper, que faz as vezes de narradora no livro em que o filme se inspira.
“Meus agentes diziam ‘Todo mundo quer esse papel. Kristen, você tem que ler esse roteiro’, e, no começo, não queria participar de algo que sexualiza garotas jovens e as coloca na posição de uma heroína”, revelou. “Então li o roteiro e vi que era o oposto disso”, completou, louvando a relação que sua personagem estabelece com o de patriarca vivido por Gandolfini.
E Kristen parece levar a sério a carreira de atriz. Para se dedicar às artes dramáticas, ela deixou passar sua data de ingresso na faculdade – mas tem noção de que seu status de estrela lhe garantiria uma vaga em qualquer universidade renomada em que se inscrevesse. Ainda assim, cultiva, por exemplo, o interesse pela escrita, com inclinação à poesia. “Escrever é algo em que você pode se treinar para melhorar e se conhecer melhor. Isso é muito intimidante, e algo que eu certamente sempre farei”, afirmou.
Sorte a dela: “A Saga Crepúsculo” lhe garantiu certa autonomia profissional e financeira, para que com sua conclusão – “Amanhecer”, que será dividido em dois filmes diferentes -, possa se dedicar a outros interesses e projetos pessoais. A mãe da atriz, Jules Mann-Stewart, escreveu e está prestes a dirigir um longa (“K-11″) que terá Kristen como protagonista – no papel de um transexual!
Ao mesmo tempo, ela já arranjou uma nova franquia em potencial para financiar seus próximos atrevimentos independentes. Kristen interpretará Branca de Neve em um novo longa sobre a heroína dos contos de fada, que pode ser desdobrado em uma trilogia.
Em cinema comercial ou de vanguarda, uma coisa parece certa: muito se ouvirá dizer sobre Kristen Stewart nos próximos anos. Mesmo que ela se recuse a dizê-lo por si mesma.
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