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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Crepúsculo: A Visão de Casamento de um vampiro de 107 anos de idade

Depois do trailer oficial do filme ter sido lançado, todas as atenções se voltaram para “Amanhecer“, principalmente para o tão aguardado casamento dos personagens Edward e Bella.

Esta semana, a imprensa está alvoroçada com a notícia do mais recente casamento de celebridades em que uma plebéia vem para a luz dos holofotes para se casar com um homem encantador de uma grande e poderosa família. Estou falando, naturalmente, sobre Bella Swan e Edward Cullen, personagens principais do filme “Crepúsculo” deste novo filme que estréia no outono, “Amanhecer”.

Embora essas celebridades sejam ficcionais, seu casamento está gerando fervor no nível do recente casamento real: o trailer para este último filme da série, que possui quatro partes, foi lançado causando muito alvoroço esta semana durante o “MTV Movie Awards”, com cenas das núpcias, e cópias dos convites de casamento do casal que vazaram para a imprensa.

“Crepúsculo”, como a maioria das séries de fantasia, funciona como uma alegoria, no entanto, é difícil descobrir para quê. Em sua superfície, “Amanhecer” oferece uma mensagem de que o amor vence tudo celebrando um casamento revolucionário entre uma humana e um vampiro.

Em todos os outros aspectos, o casamento de conto de fadas é material, então as núpcias entre espécies são ostensivamente a causa de todo o tumulto no trailer, afinal de contas, os Cullens são vampiros equivalentes a vegetarianos (nunca bebem sangue humano) e têm coletivamente protegido Bella de desastre após desastre, então Edward é praticamente um achado. Assim, como humana e vampiro, a desafiante decisão de se casar é vendida como uma máxima sobre o amor que atravessa todas as fronteiras, e nesse nível, o que ele proporciona.

Após uma inspeção mais minuciosa, no entanto, a alegoria não se sustenta.

Nos últimos 50 anos, as maiores mudanças de regras convencionais americanas sobre o amor e o casamento teriam acontecido ao longo de dois eixos: raça, com a legalização e a crescente aceitação das relações e casamentos inter-raciais; e de gênero, tanto através da aceitação cada vez maior (e legalização parcial) de relacionamentos e casamentos gay, bem como através da aceitação de um regime mais flexível e justo nas relações e casamentos heterossexuais.

Raça e gênero são situações de ambos progresso e dificuldade que ainda subsistem; a discriminação em relação a ambos estimulou mudanças radicais para a instituição do casamento, e também permanece uma barreira importante para as relações.

No entanto, para todas as novidade do filme, a mensagem que transmite sobre gênero é tão ultrapassada como fica: Bella é uma menina bem jovem e convencionalmente feminina, que é insuportavelmente atraída por um homem que ela acha que é perigoso, que facilmente e frequentemente a subjuga, e que continuamente a rejeita; durante toda a série, ela abandona família e amigos para estar com ele, até que ele finalmente a aceita e se casa com ela, imediatamente após isso (durante sua lua de mel, na verdade), ela fica grávida e arrisca sua vida para carregar o seu bebê.

Ao longo da história, Bella está por várias vezes em perigo mortal, mas sempre é resgatada no último minuto por um ou mais pretendentes. A narrativa é quase anacrônica em sua mensagem ferrenha anti-feminista.

Os romances e filmes são igualmente suspeitos em relação à raça. Stephenie Meyer, autora da série “Crepúsculo”, repetidamente descreve a pele de Edward como tão branca que é translúcida e parece pedra; Bella Swan (cujo nome não faz sutilmente referências tanto a beleza quanto a um cisne branco) é revelado com uma complexidade semelhante.

Não há nada errado com a pele branca, mas a descrição da beleza dos protagonistas que emana de sua pele extremamente branca não é por acaso: os vampiros da nossa cultura pop incorporam todas as nossas expectativas de uma aristocracia branca, conforme descrito na peça fascinante de Natalie Wilson, “Got Vampire Privilege?: The Whiteness of Twilight”. Se a comparação precisa ser esclarecida, o inimigo de Edward é apropriadamente chamado Jacob Black, que é descrito como tendo cabelos escuros, pele morena e olhos escuros; Black, que é dito membro da (real) tribo Quileute é secretamente não apenas um animal selvagem, mas, especificamente, um lobo que pode se passar por um humano.

Seu papel nos romances e filmes é o de tentar seduzir Bella, a frágil e protegida protagonista branca, e tentá-la para longe do homem que estava (de acordo com Meyer) destinado desde o início a ficar com ela. Típico para a continuação, Bella recusa os seus avanços e se casa com Edward, mas a onda Time Jacob versus Time Edward (leia-se: jogada de marketing), que surgiu a partir desta rivalidade tornou-se tão conhecida como os próprios filmes. Na realidade, porém, Jacob nunca teve uma chance; a história não podia se gabar de um casamento de conto de fadas sem um príncipe branco da classe alta.

Assim, enquanto se espera uma história de amor popular para refletir as preocupações dos tempos, o sexismo e o racismo evidentes do filme colocam um ligeiro abafador sobre o potencial para as histórias que funcionam como alegorias para as barreiras de raça ou de gênero. A moral da história, então, é que o amor vence tudo... exceto obstáculos enfadonhos e não-sobrenaturais como raça e gênero. Fica a pergunta do que exatamente Meyer tinha em mente.

Para todos os elementos sobrenaturais e teatralidade, “Crepúsculo” é um conto simples, com uma narrativa simples, não é diferente do casamento real: uma jovem mulher bonita tranquilamente aguarda seu tempo até que um homem poderoso aparece para tirá-la de sua vida anterior.

A moral da história, para as jovens meninas que compõem a maioria dos fãs de “Crepúsculo”, é que se elas agem como damas, um homem importante acabará por reconhecer que elas são esposas adequadas, e eles serão capazes de viver felizes para sempre. Ambos “Crepúsculo” e o casamento real reforçam a velha e cansativa alegoria de que as meninas fantasiam e devem fantasiar sobre seus casamentos muito antes de estarem grandes o suficiente para namorar, e ambos oferecem modelos ridiculamente antiquados do que o casamento deveria ser.

No entanto, "Crepúsculo" não foi feito em um vácuo, e essas histórias são populares porque elas falam para um momento específico no tempo em que os papéis estão em evolução. Jovens meninas heterossexuais entrando na adolescência enfrentam hoje um terreno de namoro cada vez mais indesejável: E as mulheres estão achando mais difícil encontrar os parceiros que elas foram condicionadas a esperar (como explicado em maior profundidade no livro de Lori Gottlieb "Marry Him"); muitos potenciais maridos serão menos educados e, muitas vezes ganham menos do que elas; se casar não é mais uma garantia de futura parceria, pois os casamentos são mais propensos a falhar do que dar certo; e muitos estabelecimentos culturais retratam maridos como uns patetas (veja “Modern Family”, “King of Queens”, “Everybody Loves Raymond”, ou qualquer um dos filmes recentes de Judd Apatow, entre muitos outros exemplos).

De fato, a impossibilidade de encontrar um homem como os vampiros ou príncipes da tela é o que torna estes exemplos tão poderosos para as mulheres jovens: a superioridade destes resultados é empunhado sobre as mulheres que enfrentam tanto um mercado de trabalho cada vez mais difícil e perspectivas de casamento mais assustadoras ainda, fazendo com que as mulheres jovens reconsiderem o caminho para um romance de contos de fadas: dedicar-se a atingir a feminilidade normativa e desejo (hetero) sexual, e à espera de um conveniente marido escolher se casar com elas.

Na sua essência, o fenômeno “Crepúsculo” é simplesmente um reflexo regressivo, mas bem cronometrado, do futuro romântico cada vez mais instável que as mulheres jovens enfrentam.

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